sexta-feira, 27 de junho de 2008

da existência de Achribun

Na sequência de uma carta enviada ao Provedor do Espectador de Programas da RTP e da qual tivemos conhecimento, iremos contar mais um episódio da História de Achribun.

A carta reza assim:

"Senhor Provedor

O meu nome é Alice Águas e sou Mestranda na Universidade Nova de Lisboa, com Licenciatura em Comunicação Social, sendo o propósito da minha Dissertação o estudo da abordagem feita nos meios de comunicação social à Geografia, não pude deixar de notar o modo ligeiro com que o apresentador do programa "Oriente", (emitido na passada sexta feira na RTP2) Miguel Portas se terá referido às "terras fabulosas da Achribunia", ou "terras de fábula de Achribun", reportando-se em tom irónico ao livro apócrifo "Memórias dum andarilho luso por terras d'Asia conturbada" (Porto, edição de autor, 1978).Este livro é tido como obra de ficção atribuida a Luíz Pacheco. Contudo, parece-me antes que Luíz Pacheco ou outro invés dele, terá recorrido a um outro livro, "Memórias de Viagens pela Ásia" (Porto, edição de Autor, 1973) e escrito por Alexandre Guerra dos Reis (Ilhavo, 1908 - Porto, 1974). Este livro surge nas listagens de catálogos de Nuno Canavarro, mas é omisso nas Bibliotecas Públicas Nacionais (A Biblioteca Pública Municipal do Porto regista a sua entrada em Janeiro de 1974, mas o exemplar está dado como extraviado ou não devolvido) e não consegui ainda ter acesso a nenhum exemplar. Pelos registos da família, pude perceber que toda a edição (1500 ex.) foi entregue para distribuição à Sociedade Nacional de Tipografia, à excepção de alguns exemplares actualmente na posse da família, tendo eu já solicitado um exemplar para consulta. Do que sei sobre Alexandre Guerra dos Reis, nasceu em Ilhavo em 1908, tendo sido Capitão da Marinha Mercante, com actividade ligada à pesca do Bacalhau e posteriormente nas rotas do Atlantico e do Índico. Sabe-se que terá adquirido na Cidade do Cabo, na década de 40, um exemplar anotado do "Atlas do Almirantado Britanico" (Liverpool, 1880) que refere a pp. 144/5 ao Reino de Achribunia. Ficou registado o seu desembarque no Golfo de Benguela em 1949 e crê-se, por ausência de documentação a seu respeito nos três anos seguintes, que se terá embrenhado no interior do território, tendo provalvelmente visitado o Nepal, a Birmânia, o Norte da Índia e o Afeganistão, tendo passado pelas terras de Achribunia referidas na publicação.
Solicito a V. Excia melhor exigência de rigor na informação dada aos telespectadores, porque efectivamente o Reino de Achribun existe e não é uma terra de ficção.

Com os melhores cumprimentos,

Alice Águas"

quinta-feira, 12 de junho de 2008

De Férias para Achribun

Vou para Achribun passar uns dias.

Para quem não sabe, Achribun é um pequeno país situado entre a Península Hindostânica e a Ásia Central; É um país com um Regime Monárquico Matrilinear baseado num sistema de castas e uma economia com laivos de comunitarismo primitivo baseado na pastorícia com cerca de 9.000 Km2 e 250.000 habitantes. A Religião é Animista semelhante ao Xintoísmo Japonês. Teve uma civilização florescente desde o séc. XV ac até há cerca de mil anos, tendo começado desde então a decair. O primeiro Europeu a ter contacto com este país, já no período de decadência, foi o Padre Jesuita Baltasar de Freitas, que registou alguns dos costumes e vocábulos na obra "Tradição dos simples e cativos povos que não conhecem a Cristo sem prejuizo da inocencia", publicado em Antuérpia em 1627 do qual apenas subsiste um exemplar na Biblioteca do Vaticano. A sua antiga Capital era Axoxibum, actualmente oculta por densa floresta. Uma equipa de Arqueológos financiados pelo Fundo Europeu para a Preservação das Línguas em Extinção procede actualmente a sondagens e escavações tendo já posto a descoberto estruturas do que aparenta ter sido o Palacio Real, dadas as semelhanças com a descrição feita pelo Padre Baltasar de Freitas. Encontrou-se ainda um túmulo que poderá ter sido do Rei Consorte da Rainha Ataíja, que, vítima de Rebelião dirigida pela sua irmã Ataebbá, foi morta em 1415; o Rei Consorte, para não ser morto e enterrado com a Rainha, de acordo com os Rituais Fúnebres da época, procurou refugio numa caravana de mercadores Afegãos que se dirigia a Constantinopla. Há registos do Rei Consorte, Bruniavi, ter permanecido na Torre Genovesa durante uns anos, tendo embarcado numa Nau Flamenga que fazia tráfego de mercadorias entre o Mar Egeu e o Mar do Norte, tendo desembarcado em Brugges a 12 de Agosto de 1419 para Dijon, enquanto convidado da Casa de Borgonha, tendo sido alvo de constante curiosidade dado o tom "oliviado" da sua tez e ao hábito estranho de limar os dentes (que derivam da sua dieta, baseada no consumo de carne semi crua, que obrigava a "adaptar" os dentes para rasgar os alimentos). Durante a sua estadia com Filipe, o Belo aprendeu o Francês e converteu-se ao Cristianismo. Casou com uma filha Bastarda de D. Afonso, Conde de Barcelos e 1º Duque de Bragança, à altura Dama de Companhia de Isabel de Portugal, de seu nome Brites.
Da Herança Cultural deste país, destaca-se a pintura lacada, que transmitiram aos Chineses no séc X ac.
Uma das espécies autóctones é o borrego anão, praticamente desconhecido, mas que chegou a ser exportado para o Entreposto de Lisboa entre o séc XVI e finais do séc. XVIII, de onde seguia para toda a Europa do Norte e Mediterranica. Brillat de Savarin era um entusiasta desta carne designada por pré salé, devido ao elevado teor de cloreto de sódio presente nas pastagens das altas montanhas de Achribun.
A língua é aparentada com a grande família das línguas Indo-Europeias, com forte predominancia das influencias do sanscrito e alguns laivos fino-ugáricos e turco antigo (influenciada provavelmente pela passagem de mercadores afegãos e abecásios). Trata-se de uma das 2.500 linguas em vias de extinção listadas pela UNESCO.
No país não existe televisão, mas apenas uma rádio que transmite na lingua local durante duas horas por dia em onda média.
Não tem estradas asfaltadas, apenas as principais vias de ligação entre a capital, a cidade de Chiaratar e o Entreposto com o Butau são calcetadas já desde o séc. V ac; toda a restante rede é em terra batida. O principal meio de transporte é ainda hoje o carro de tracção animal (raça asinina autóctone) e alguns veiculos motorizados oriundos da India e da China (que também fornecem os combustiveis).
Um dos símbolos do País é uma raça autóctone de cães, o Molosso Achyré que se assemelha a um cruzamento de Afegão com um São Bernardo.
A dieta, à base de carne de borrego salgada, é bastante pobre; o cereal predominante é o centeio que usam para fazer pão e uma espécie de cerveja de côr amarelo palha e muito adstrigente. Consomem ainda frutos secos e mel colhido na floresta (apicultura incipiente), bem como um tubérculo de côr verde semelhante à cenoura, que designam por apoki e comem cozido ou em caldos.



(continua)