quarta-feira, 12 de novembro de 2008

na academia - As Aventuras de João sem medo

Aventuras de João sem medo, panfleto mágico em forma de romance
José Gomes Ferreira

Este livro é absolutamente fantástico. Lido pela primeira vez no sexto ano, foi usado como base de uma peça de fantoches organizada na turma pela Professora de Português. Claro que tinha que ler o original…

Narra as aventuras de João sem medo, que vivia em Chora-Que-Logo-Bebes, exígua aldeia de chorincas situada (ou melhor, aninhada) perto do muro construído em redor da Floresta Branca e onde os homens construíram uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos. Claro que ninguém se aventurava pela floresta, porque os choraquelogobebenses preferiam choramingar e lastimar-se, andando sempre de monco caído, sempre constipados por causa da humidade, e a ouvirem com delícia canções de cemitério ganidas por cantores trajados de luto, ao som de instrumentos plangentes e monótonos.
Um dia João, o único que por capricho de contradizer e instinto de refilar resistia à choradeira, não aguenta mais e atreve-se a saltar o muro, que ostentava este aviso:

É PROIBIDA A ENTRADA
A QUEM NÃO ANDAR
ESPANTADO DE EXISTIR

e embrenha-se na Floresta Branca…
A partir daí sucedem-se aventuras e seres milagrosos como a Fada dos Dois Caminhos, o Homem sem Cabeça, a Menina de Cristal, o Gramofone com Asas, o Príncipe das Orelhas de Burro, o Rocinante (sim, o cavalo de Dom Quixote), a Princesa nº 46734, o João Medroso, a Menina dos Pés Ocos ou a Pedra numa narrativa que nos deixa literalmente agarrados ao livro. No fim, João sem medo, cheio de saudades de comer um bacalhau cozido com batatas e grelos, volta para Chora-Que-Logo-Bebes. De regresso àquela choraminguisse toda, decide abrir uma fábrica de lenços. Deve ter enriquecido…

Esta Obra, de um dos maiores escritores Portugueses, constitui-se numa viagem de João sem medo a um mundo fantástico que no essencial se encontrava dentro dele. Magistralmente narrada, é sem dúvida uma Obra incontornável do século XX Português.
Dedicada aos filhos do Autor, Raúl Hestnes Ferreira e ao irmão, Alexandre.

Dedicatória da primeira edição (1963):

Para os meus dois filhos:
Para ti, Raul José, homem há muito – e homem autêntico -, que aprendeste à tua custa que a verdadeira coragem é a força do coração…
Para ti, Alexandre, ainda criança, mas já com todas as tendências para não te tornares num desses falsos adultos que sujam o mundo e odeiam a imaginação…
Para os meus dois filhos – o homem e a criança – este Divertimento escrito por quem sempre sonhou conservar a Criança bem viva no Homem.





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